NÃO É TÃO SIMPLES RETIRAR A TURQUIA DO PROGRAMA DO F-35

Os Estados Unidos (EUA) e a Europa sabem muito bem que a Turquia é de suma importância no contexto da OTAN, tanto geograficamente como politicamente, e por isso mesmo, sempre acabam por pôr panos mornos nas diferenças que surgem nas relações bilaterais. Entretanto, o atual presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdoğan foi alvo de uma tentativa de golpe liderada pelo teólogo exilado nos Estados Unidos, Fetullah Gülen e financiada pelo governo americano, que na época era dirigido por Barak Obama.
Desde então, as relações ficaram estremecidas entre os dois países. Aproveitando esse momento, a Rússia sabiamente aproximou-se da Turquia, mesmo tendo também sérias diferenças, inclusive, no conflito sírio. A força aérea turca chegou a derrubar uma aeronave de ataque russa, que segundo Ankara, havia violado seu espaço aéreo ao realizar ataques contra posições terroristas na fronteira com a Síria. Tempos depois, o presidente Erdogan pediu desculpas pessoalmente a Putin pelo ocorrido.
Com essa aproximação, a Rússia viu a oportunidade de realizar negócios e ofertar armas de ponta como o S-400. O sistema possui as seguintes características: exelente capacidade antibalística, que na região é essencial, foi desenvolvido recentemente e foi vendido com um preço bastante inferior ao do concorrente americano, o M-104 Patriot da empresa Rhayteon.

O Congresso americano logo invocou o “Adversaries of Countering America’s Through Sanctions Act (CAATSA), que é uma lei federal que impõe sanções a todos os aliados e empresas americanas que fizerem negócios com o Irã, Coreia do Norte e Rússia. O presidente Trump, porém, titubeou e não aplicou as sansões imediatamente.
F-35 TURCO

Um dos motivos para essa reação é que a indústria de defesa da Turquia faz parte da cadeia global de produção do caça de 5ª geração F-35 Lightning junto com diversos países europeus. A interrupção ou exclusão do país poderia transformar o programa em um caos.
Abaixo, as empresas turcas e as partes do F-35 que elas são responsáveis (Fonte: Lockheed Martin):

• A Alp Aviation vem apoiando o programa desde 2004 e atualmente fabrica estruturas e montagens de estruturas de produção F-35, componentes de trens de pouso de produção e mais de 100 peças de motores de produção F135 para incluir rotores de lâminas integrados de titânio.
• A Ayesas atualmente é a única fornecedora de fontes para dois componentes principais do F-35 – unidade de interface remota de míssil e tela panorâmica do cockpit.
• A Fokker Elmo fabrica 40 por cento do Sistema de Fiação e Interligação Elétrica F-35 (EWIS) e também fornecerá e suportará o TAI com todos os sistemas de cabeamento da seção central. A Fokker Elmo também está desenvolvendo o EWIS para o motor F135, para o qual uma parte importante é produzida na Fokker Elmo Turquia, em Izmir.
•A Havelsantem apoiado os sistemas de treinamento F-35 desde 2005. Além disso, Havelsan tem sido fundamental como líder turca para desenvolver a construção do futuro Centro de Treinamento Integrado de Piloto e Manutenção F-35 (ITC) e sistemas de treinamento associados na Turquia.
• A Kale Aerospace apoia o F-35 desde 2005. Em conjunto com a Turkish Aerospace Industries, eles fabricam e produzem estruturas e montagens de fuselagem F-35. A Kale Aero também apoia a Heroux Devtek como o único fornecedor de origem para todas as três variantes de conjuntos de bloqueio de trem de pouso. Além disso, a Kale Aerospace também estabeleceu uma joint venture em Izmir com a Pratt & Whitney e está fabricando equipamentos de produção para o motor F135.
• A ROKETSAN eTubitak-SAGE é a equipe de liderança conjunta da Turquia que gerencia estrategicamente o desenvolvimento, a integração e a produção do avançado Míssil de Compensação (SOM-J) guiado por precisão que será transportado internamente na aeronave da 5ª Geração F-35. Além disso, a Lockheed Martin Missiles e a Fire Control firmaram uma parceria com a Roketsan, através de um acordo de parceria, para desenvolver, produzir, comercializar e vender em conjunto o Avançado, com mira Stand Off Missile – Joint Strike Fighter (SOM-J).
•A T Aerospace Industries urkish (TAI) tem apoiado estrategicamente o programa F-35 desde 2008. Atualmente, a empresa fornece hardware de produção para cada aeronave de produção F-35. Em conjunto com a Northrup Grumman, a TAI fabrica e monta as fuselagens centrais, produz peles compostas e portas de compartimentos de armas, e fábrica condutas de entrada de ar compostas de colocação de fibra. Além disso, a TAI está fabricando estrategicamente 45% dos F-35, incluindo os pilões e adaptadores que são equipamentos de missão alternativa (AME).
Além disso, a Indústria Turca terá papel significativo na Participação Industrial apoiando a Lockheed Martin e a Pratt and Whitney na manutenção de aeronaves F-35 e na produção e manutenção de motores F135. A Turquia recebeu a aprovação para construir seus próprios motores F135 e também foi selecionada para ter a primeira capacidade de recondicionamento do depósito regional do motor europeu F135. Tanto a produção quanto a revisão do motor ocorrerão no 1º HIBM em Eskisehir. Além disso, o TAI também foi designado para representar os depósitos orgânicos das Forças Armadas Turcas dentro do sistema de Manutenção Global Logística Autônoma (ALGS) e Havelsan foi designado como Integrador Turco para o Centro Nacional Integrado de Treinamento (ITC).
Em 21 de junho de 2018, depois de várias ameaças de cancelamento por parte do senado americano, foi realizada a cerimônia de entrega dos dois primeiros caças F-35 do país, em Forth Worth, Texas. Entretanto, o impasse continua e algumas peguntas precisam ser respondidas:
Como substituir rapidamente a participação da indústria turca na produção do caça?
Vale a pena se indispôr com um importante aliado, membro da OTAN e ator na região mais conflituosa do mundo?
Os dados de assinatura radar do F-35 serão mesmo recolhidos e passados aos russos?
Por Graan Barros
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