MUNIÇÕES CLUSTER: NÃO HÁ LUGAR PARA INOCENTES NO MUNDO!

A Convention on Cluster Munitions (CCM) é uma convenção sobre munições em cluster e foi iniciada na cidade de Dublin, Irlanda em 30 de maio de 2008.  No dia 3 de dezembro do mesmo ano, foi aberta à assinatura em Oslo, contando hoje com mais de 100 Estados signatários.[1] A CCM tem por objetivo erradicar a fabricação e uso das chamadas munições em

A grosso modo as submunições são armamentos que possuem uma cabeça de guerra em cluster (cacho, em inglês) com múltiplas munições menores que se espalham em uma determinada área explodindo. O uso antipessoal é o mais significativo, pois pode maximizar o poder de combate provocando um grande número de baixas do inimigo de uma só vez.

Apesar de atenderem perfeitamente os requisitos de combate a indústria bélica até o momento, jamais conseguiu projetar submunições que conseguissem um índice de 100% de detonação. Nesse sentido, o armamento é considerado imoral, já que pode matar militares e civis anos após o ataque. Dados colhidos pela organização “Coalizão Contra Munições Cluster” revelaram que em 2016 o número de vítimas de munições não-deflagradas chegou a 971 pessoas, incluindo 860 na Síria e 38 no Iêmen. [2]

Os signatários

Hoje, o número de signatários, como já informamos, ultrapassou os 100 países. Entre esses signatários estão o Reino Unido e França, que  mesmo sendo países possuidores de uma indústria de defesa forte e competitiva no mercado internacional e de terem participado de guerras em coalizões lideradas pelos Estados Unidos, não utilizaram armamentos do tipo.

EUA e outros não signatários

Depois da 2ª Guerra Mundial os EUA estiveram envolvidos em praticamente todos os conflitos armados no mundo. Sendo assim desenvolveram uma poderosíssima indústria de defesa que não encontra ainda rivais. Os gastos militares americanos são maiores que os da China e Rússia somados.

A Rússia também tem feito uso desse tipo de munição na sua campanha militar na Síria e por isso mesmo, vem recebendo críticas da CCM e de ONGs internacionais anti-armamentistas.

Voltando aos Estados Unidos, em 2008 a administração de George W. Bush anunciou uma importante decisão: declarou que a partir de 1 de janeiro de 2019, os Estados Unidos só continuariam a usar bombas de fragmentação se a indústria americana conseguisse desenvolver munições cluster que atingissem 99% de detonação.

A notícia foi festejada pela comunidade internacional, que via a principal como positiva a decisão da maior potência militar do mundo em abandonar as munições “cluster”. Mas, no dia 30 de novembro do ano passado veio o banho de água fria. O porta-voz do Pentágono, Tom Crosson, disse que, “apesar dos esforços para desenvolver munições de fragmentação mais confiáveis e, portanto mais seguras, a indústria bélica dos EUA não conseguiram produzir bombas com taxas de falha de 1 por cento ou menos, e que não estava claro quanto tempo seria necessário para alcançar esse padrão.

Se a indústria bélica dos Estados Unidos conseguisse atingir esse padrão certamente conseguiria matar dois coelhos com uma só cajadada:

  1. Não estariam mais sobre a pressão mundial para assinar o tratado, pois o efeito colateral (vítimas) cairia a um índice insignificante com a nova munição.
  1. A pressão mudaria de lado e recairia sobre os concorrentes da indústria dos Estados Unidos, que sem acesso a nova tecnologia perderiam o mercado para eles. Entre esses estaria certamente o Brasil. Esse é o jogo!

O Brasil é um grande fornecedor mundial de armas, em grande parte para o mercado do Oriente Médio, fruto principalmente de Ernesto Geisel e sua política pró-Árabe e anti-sionista do seu governo.[3] De lá prá cá o mercado da região mais conflituosa do mundo se abriu para a indústria bélica do Brasil. Vendemos muitas armas para os sauditas e iraquianos. Entre esses armamentos o ASTROS II  e o EE-9 Cascave..

Aliás, é do Oriente Médio que surgiu uma denúncia sobre um ataque utilizando submunições. Segundo a Human Rights Watch, no norte do Iêmen, dois meninos ficaram feridos quando sub-munições de um foguete lançado pela Coalizão Saudita explodiu. [4] O foguete foi vendido aos sauditas pela Avibrás.

O míssil de cruzeiro AVTM 300 da Avibrás, que está atualmente em avançada fase de desenvolvimento, com previsão de conclusão em 2020, terá uma cabeça de guerra múltipla (MW) com capacidade de ejetar 66 submunições de 70 mm.

Certamente, se não vendermos para os sauditas outros venderão, reduzindo a carteira de clientes conseguida com muito trabalho e competência durante esses 50 anos. E pela natureza do que produz, a indústria bélica sempre estará na berlinda, sobre pressão e mergulhada em dilemas morais importantes. Certamente, também as guerras e conflitos continuarão.

Por Graan Barros

[1] http://www.clusterconvention.org/

[2] https://www.hrw.org/pt/news/2017/09/05/308462

[3]http://www.funag.gov.br/ipri/btd/index.php/10-dissertacoes/399-o-fim-da-equeidistancia-o-veto-brasileiro-ao-sionismo-e-a-politica-externa-do-governo-geisel-para-o-oriente-medio-1974-1979

[4]

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