A QUEM INTERESSA UM CESSAR FOGO NA SÍRIA?
A rápida expansão do Estado Islâmico em território sírio e o aumento da ação de milícias anti-governo, na maior parte delas financiadas ou pelos Estados Unidos ou pela Arábia Saudita, parecia decretar o fim do governo do presidente Bashar Al-Assad. Mesmo recebendo regularmente armamentos da aliada Rússia de Vladimir Putin, as forças regulares da Síria, isto é, o seu exército, força aérea, etc. certamente não iriam resistir por muito tempo a saturação de ataques provenientes da “Frente Al-Nusra” (ligada a AL-Qaeda), do ISIS ou das dezenas de outros grupos armados que atuam no país.
Somente uma entrada mais efetiva de uma potência como a Rússia poderia mudar o quadro a favor de Assad e foi exatamente isso que aconteceu, quando em setembro de 2015, Moscou começou a deslocar para o aeroporto de Latakia as primeiras aeronaves de ataque e helicópteros que iriam participar das operações na Síria. Poucos dias depois o presidente Vladimir Putin autorizou os primeiros bombardeios contra a infraestrutura desses grupos. Mais tarde autorizou ataques, agora, com mísseis de cruzeiro Kalibr lançados a partir de corvetas do Projeto 21631 Buyan-M e submarinos do Projeto 636 Varshavyanka. Em ataques posteriores foram usados até bombardeiros estratégicos TU-160, TU-95MS e TU-22.
Logicamente, o resultado apareceu quando o exército sírio começou a divulgar que começava a retomar importantes cidades que estavam sobe o domínio do ISIS e de outros grupos. Cidades com grande número de cristãos, como Holms, voltaram a comemorar o Natal, inclusive com cultos ortodoxos realizados nas suas catedrais. Entretanto, em outros lugares da Síria, ainda dominadas por grupos armados, que a imprensa europeia costuma chamar de “oposição moderada”, os violentos combates continuam.
Na última semana, vemos os financiadores desses grupos, preocupados com a virada de jogo provocada pela intervenção russa no conflito sírio. Apostam em um cessar fogo que criaria condições para a ajuda humanitária chegar à população que ficou sitiada em áreas de conflito. Realmente a população precisa não só de atendimento médico, como também de alimentos e água para sobreviver a esse verdadeiro inferno que se tornou um dos países mais belos do Oriente Médio.
Mas há outras implicações nesse cessar fogo que não só humanitárias. A chanceler alemã Angela Merkel, por exemplo, está propondo uma zona de exclusão aérea na Síria, que serviria muito aos grupos armados anti-governo e que no momento estão sendo derrotados pelos ataques aéreos da força aérea da Síria e das Forças Aeroespaciais russas. Com a zona de exclusão esses grupos ficarão livres dos ataques aéreos e voltarão a se reestruturar e receber mais armas dos seus financiadores externos como Arábia Saudita, Turquia e Estados Unidos. Alias, são esses três países que querem formam uma coalizão que pretende invadir por terra a Síria. Se é mesmo que pretendem consumar tamanha insensatez.
Por Graan Barros
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