APOIAMOS O BRASIL COMO CANDIDATO A MEMBRO PERMANENTE NO CONSELHO DE SEGURANÇA DA ONU”, DIZ PÚTIN

 
“Apoiamos o Brasil como candidato a membro permanente no Conselho de Segurança da ONU”, diz Pútin
Pouco antes da visita ao Brasil, o presidente russo Vladímir Pútin deu uma entrevista à agência Itar-Tass. Às vésperas de participar da cerimônia de encerramento da Copa do Mundo e da cúpula dos Brics em Fortaleza, Pútin falou sobre o estado e as perspectivas das relações russo-brasileiras.
 
Itar-Tass: Como o sr. avalia as relações Brasil-Rússia atualmente?
 
Vladímir Pútin: Nossa cooperação bilateral tem caráter estratégico. O Brasil é um membro da comunidade internacional cujo peso político é cada vez maior, é o maior país da América Latina e compõe o grupo dos líderes econômicos mundiais. Basta lembrar a participação ativa do Brasil no Brics, G20 e em várias outras organizações regionais latino-americanas – como CELAC, Mercosul e Unasul.
 
Nós apoiamos o Brasil como um candidato forte e merecedor de um lugar de membro permanente no Conselho de Segurança da ONU. Estou convencido que esse poderoso e dinâmico país desempenha um papel importante na nova ordem mundial policêntrica.
 
Comércio e investimento vão encabeçar pauta da próxima cúpula do Brics
 
Ressalto que o Brasil é um dos parceiros-chave da Rússia na América Latina. Longas relações de amizade, simpatia mútua e confiança nos unem. Nós desenvolvemos ativamente o diálogo político, técnico-militar, científico, a cooperação tecnológica e humanitária, e intensificamos os laços econômicos e de investimento.
 
Nos últimos dez anos, o comércio mútuo cresceu quase três vezes. As empresas dos dois países mantém contato estreito por meio do Conselho Empresarial Rússia-Brasil. Os nossos cidadãos não precisam mais de visto para viagens mútuas. Dezenas das melhores universidades russas foram incluídas no programa educacional brasileiro “Ciência sem Fronteiras”, e estão preparadas para abrir suas portas aos estudantes do Brasil. O intercâmbio cultural se tornou uma tradição.
 
Itar-Tass: Com quais questões-chave e sugestões concretas o sr. vai ao Brasil?
 
Vladímir Pútin: Durante a visita, temos intenção de discutir as diretrizes do desenvolvimento futuro da cooperação. Identificar novos projetos conjuntos no campo de energia, investimento, inovação, agricultura, ciência e tecnologia. Planejamos a assinatura de um pacote sólido de documentos ema várias áreas, inclusive por meio de agências especializadas, entre empresas públicas e privadas e instituições educacionais e de pesquisa científica.
 
Itar-Tass: O nível das relações comerciais e econômicas russo-brasileiras estão longe do potencial constatado pelos líderes de ambos os países. Em sua opinião, o que é preciso ser feito para impulsionar os índices? O que nos impede e não nos deixa passar a um novo nível no comércio mútuo?
 
Vladímir Pútin: De fato, apesar dos bons resultados obtidos, o potencial econômico-comercial da cooperação com o Brasil não chegou nem perto dos 100%. Além disso, no contexto de instabilidade da economia global, observa-se certa queda do comércio bilateral [3,3% em 2013]. Para remediar tal situação, é necessário diversificar os laços comerciais, intensificar a distribuição de produtos de alta tecnologia, produtos de engenharia, desenvolver a cooperação nos setores de aviação, energia e agricultura.
As empresas russas demonstram interesse no mercado brasileiro. Foi lançada uma série de projetos de investimento bem sucedidos, que envolvem empresas dos nossos países no campo de energia, engenharia e produtos farmacêuticos. A petrolífera Rosneft e a empresa brasileira de petróleo e gás HRT realizam em conjunto a investigação e produção de hidrocarbonetos na bacia do rio Solimões. No estado de Santa Catarina, a corporação Silovie Mashini está trabalhando no estabelecimento da produção de turbinas hidráulicas de até 100 MW para a sua posterior venda nos mercados do Brasil e de outros países do Mercosul. A Biocad está criando no Brasil um centro de produção, educação e pesquisa científica, no qual serão produzidos medicamentos modernos e inovadores para tratamento de doenças oncológicas.
 
Estou convencido de que a realização desses projetos ajudará a levar a nossa cooperação econômico-comercial bilateral a um nível mais maduro, que corresponde às capacidades atuais e futuras dos nossos países em desenvolvimento.
 
Itar-Tass: Na cerimônia de encerramento da Copa no Brasil, será repassada à Rússia a responsabilidade pela organização do próximo Mundial, em 2018. O Sr. vem acompanhando o evento atual? O que mais chamou a atenção na experiência brasileira em termos de preparação e recepção e o que pode ser utilizado na organização da Copa do Mundo de 2018? 
 
Vladímir Pútin: Tento acompanhar a Copa dentro das possibilidades da minha agenda. As seleções dos países da América Latina demonstraram um futebol brilhante e espetacular. Infelizmente, o nosso time encerrou sua participação na fase de grupos, mas, na minha opinião, tentou jogar com honra.
 
A convite da presidente do Brasil e do presidente da Fifa, irei à final da Copa do Mundo para participar da cerimônia de transferência da responsabilidade da organização do Brasil para a Rússia. Em 2018, pela primeira vez na sua história, a Rússia será a sede do mais popular evento esportivo do mundo.
 
Em viagem oficial à América Latina, Pútin assistirá à final da Copa antes de se encontrar com líderes do Brics
 
Em fevereiro passado, nós realizamos, em Sôtchi, os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Inverno com sucesso, e temos uma boa ideia de que tipo de trabalho exige a organização de um evento tão grande. Estudamos com muito cuidado a experiência do Brasil, que ainda realizará os Jogos Olímpicos de 2016. Representantes de vários ministérios e organizações, incluindo o Ministério dos Esportes da Rússia e do Comitê de Organização Rússia-2018, estão em constante contato com os parceiros brasileiros. Eles já visitaram o Brasil e tenho certeza que ainda vão fazer muitas viagens para lá.
 
Ressalto que, em alguns pontos, a Rússia pretende ir além dos anfitriões do Mundial de 2014. Nós já aprovamos por lei um regime especial de visto para aqueles estrangeiros que vão ajudar a preparar a Copa de 2018. Desse modo, pouco antes e durante as competições não só os participantes oficiais, ou seja, esportistas, árbitros, técnicos e outros, mas também torcedores, poderão vir à Rússia sem visto. Essa iniciativa não tem precedente na história dos campeonatos de futebol.
 
No geral, estou certo que a Copa do Mundo do Brasil será uma página brilhante na história do futebol. Desejo aos organizadores brasileiros sucesso no encerramento, e que nós, russos, façamos tudo para alegrar o mundo com essa inesquecível festa de futebol e com a genuína hospitalidade russa.
 
Itar-Tass: Que peso terão as questões da ordem mundial moderna nas negociações na América Latina?
 
Vladímir Pútin: O mundo do século 21 é global e interdependente. Portanto, nenhum país ou grupo de países pode resolver individualmente os principais problemas internacionais. Assim como qualquer tentativa de construir um “oásis de estabilidade e segurança” isolado está condenada ao fracasso.
Inúmeros desafios e ameaças exigem a recusa das tentativas de impor a outros povos modelos de desenvolvimento estranhos a eles. Essa abordagem foi, repetidas vezes, comprovadamente ineficaz. Ela não só dificulta a resolução de conflitos, mas também conduz à instabilidade e ao caos nos assuntos internacionais.
Hoje em dia, é particularmente importante unir esforços de toda comunidade internacional em prol da manutenção da segurança, resolver questões controversas com base nos princípios do direito internacional com apoio no papel central de coordenação da ONU.
 
Quanto aos recentes fatos de espionagem cibernética, não se trata apenas de “hipocrisia evidente” entre aliados e parceiros, mas também de um ataque direto à soberania de um Estado, bem como de violação dos direitos humanos, intervenção na vida privada. Estamos prontos para, em conjunto, desenvolver um sistema de medidas de manutenção da segurança internacional da informação.
 
 
ITAR-TASS via Gazeta da Rússia
11/07/2014 
Foto: Aleksêi Nikólski/RIA Nóvosti

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