SAÍRAM OS REQUISITOS TÉCNICOS BÁSICOS DO MÍSSIL TÁTICO DE CRUZEIRO AV-TM 300 (MTC) DO EXÉRCITO

 
O Exército publicou hoje, dia (2) no seu boletim, a portaria que homologa os requisitos técnicos básicos do tão aguardado Míssil Tático de Cruzeiro AV-TM 300, desenvolvido pela Avibrás e pelo Exército Brasileiro.
 
Antes de partirmos para a análise da parte técnica é bom esclarecermos por completo o nome do nosso míssil de cruzeiro. Inicialmente designado AV-MT-300 e depois AV-TM 300 sempre foi mais conhecido nos sites e blogs especializados em defesa por “Matador”, nome dado pelo jornalista do Estadão, Roberto Godoy, não sendo assim, um nome oficial. A partir da divulgação do cronograma de desenvolvimento pelo Escritório de Projetos do Exército, ficou sendo conhecida uma outra designação, MTC-300. Entretanto, com a portaria de hoje, parece que solidificou a nome de Msl AV-TM 300 – Míssil Tático de Cruzeiro AV-TM 300. 
 
Foto de divulgação da Avibrás*

O nome mudou tanto nesses anos quanto o designer do “Matador”. Anteriormente parecia um Tomahawk com vistosas entradas de ar da turbina, agora lembra mais um Exocet, levando os interessados no assunto fazerem a pergunta.

 
Para examinarmos os aspectos técnicos, vejamos primeiro o que o Exército Brasileiro entende por:
 
Requisitos técnicos. Características, condições e/ou capacidades que devem ser satisfeitas ou possuídas pelo material, restritas aos aspectos técnicos. 
Requisitos absolutos. Requisitos indispensáveis e incontestáveis que, se não forem todos
alcançados, tornam o material inaceitável pelo Exército.
Requisitos desejáveis. Requisitos úteis e importantes, mas que isoladamente não tornam o material inaceitável pelo Exército.
 
Então vamos aos Requisitos Absolutos (RTA):
 
O AV-TM 300 é um produto totalmente autóctone, com especificações também bastante próprias como alcance, que foi fixado em torno dos 300 Km, não por limitações técnicas, mas porque o Brasil é signatário de um tratado informal internacional, assinado no governo Fernando Henrique Cardoso, ver TNP. Porém, o item RTA 1 que trata sobre o alcance, não se limita aos 300 Km do mencionado tratado, mas “podendo o limite máximo superior ser  maior”. O que seria “ser maior” nesse caso? 100 ou 200 Km a mais ou 300 Km é um número apenas arredondado? 
 
O RTA 2 prevê a necessidade da modernização das baterias de ASTROS MK3 adquiridas em 1990 e que não possuem a capacidade de lançar o novo míssil. Mas uma vez trata-se de requisito elaborado sem a necessidade de comparar com materiais de uso de outros países, pois o AV-TM 300 nasceu para o projeto ASTROS.
 
RTA 3 estabelece o CEP ou a precisão do impacto que o míssil deverá ter sobre o alvo. No caso do AV-TM 300 será de no máximo de 30 metros. Parece um número muito alto, pois fala-se que o BrahMos, que é um projeto recente dos Russos com a Índia, em testes recentes, ter conseguido uma precisão entre 1 e 5 metros, lembrando também que a precisão da versão Block II (lançado de navio) do Tomahawk é de 10 metros.
 
RTA 7 trata da velocidade mínima do voo de cruzeiro. O AV-TM 300 é um míssil subsônico como o Tomahawk. O estipulado é ser igual ou superior a Mach 0,7 ou cerca de 834 Km/h. Velocidade parecida com a do míssil estadunidense.
 
Os RTAs seguintes, em sua maioria, estabelecem requisitos sobre segurança das ogivas, questões de auto-destruição, de manuseio e do lançamento em condições climáticas diversas.

Requisitos desejáveis (RTD):
 
Até o momento o único item que consta nos Requisitos Desejáveis é o RTD 1 como segue: “Possuir guiamento terminal que permita melhorar a precisão do míssil na fase final de voo.” Por tratar-se até o momento de um projeto da Força Terrestre para atingir alvos fixos em terra, o AV-TM 300 não deve possuir ainda radar, data LINK satelital e outros sistemas que o façam capaz de engajar alvos móveis como navios.

Graan Barros

Glossário:

Míssil de Cruzeiro: Míssil que além de utilizar um motor foguete no momento do lançamento, possui uma Turbina aeronautica que propicia um voo em velocidade subsônica ou supersônica de cruzeiro (velocidade constante) até atingir o alvo. Outra característica importante é a possibilidade de ter corrigida a trajetório do míssil em pleno voo.


Segue abaixo, a lista completa dos RTBs:
 
5. DESCRIÇÃO DOS REQUISITOS TÉCNICOS BÁSICOS
 
Visando, no mínimo, atender ao especificado nos ROB nº 05/12 devem ser satisfeitas as seguintes exigências:
 
a. Requisitos Técnicos Absolutos
 
RTA 1 ) Atingir, quando lançado da AV-LMU, alcance de utilização na faixa entre 30 km e 300 km (trinta quilômetros e trezentos quilômetros), podendo o limite máximo superior ser maior.
REF.: ROA 1 (PESO DEZ)
 
RTA 2) Ser disparado a partir da Plataforma do Sistema ASTROS versão MK3-M e versão MK6, adaptadas com as modificações identificadas no projeto.
REF.: ROA 3 (PESO DEZ)
 
RTA 3) Possuir dispositivo de guiamento que garanta uma dispersão definida por um CEP de, no máximo, 30 m (trinta metros).
REF.: ROA 7 (PESO DEZ)
 
RTA 4) Possuir cabeça de guerra do tipo Alto Explosiva, que produza uma Área Eficazmente Batida (AEB) de, no mínimo, 80 m (oitenta metros) de raio, onde um homem em pé tenha 50% (cinquenta por cento) de chance de ser atingido, conforme a Norma AMCP 706-290.
REF.: ROA 2 e 12 (PESO DEZ)
 
RTA 5) Possuir cabeça de guerra múltipla com submunições com capacidade de produzir uma Área Eficazmente Batida (AEB) de 0,078 km2 (zero vírgula zero setenta e oito quilômetros quadrados) a uma altura mínima de ejeção de 400 m (quatrocentos metros), onde um homem em pé tenha 50% (cinquenta por cento) de chance de ser atingido.
REF.: ROA 13 (PESO DEZ)
 
RTA 6) Permanecer, quando em voo de cruzeiro, dentro de uma faixa de altura entre 200 m (duzentos metros) e 1500 m (mil e quinhentos metros) acima do nível do solo.
REF.: ROA 19 (PESO DEZ)
 
RTA 7) Possuir sistema de propulsão que garanta, quando em voo de cruzeiro, uma velocidade horizontal igual ou superior a 0,7 M (zero vírgula sete Mach).
REF.: ROA 21 (PESO DEZ)
 
RTA 8) Possuir dispositivo de segurança da cabeça de guerra que a impeça de armar e detonar nas condições de manuseio, transporte, preparação para o lançamento e eventuais quedas de até 12 m (doze metros), com o míssil inserido no contêiner, conforme a Norma MIL-STD-331.
REF.: ROA 14 (PESO DEZ)
 
RTA 9) Possuir dispositivo de segurança da cabeça de guerra que, ao ser disparado, garanta que a detonação ocorra a uma distância mínima de 10.000 m (dez mil metros) da lançadora.
REF.: ROA 14 (PESO DEZ)
 
RTA 10) Manter-se operacional em eventuais quedas de até 1,5 m (um vírgula cinco metros), com o míssil inserido no contêiner.
REF.: — (PESO DEZ)
 
RTA 11) Ser capaz de se autodestruir, durante toda a sua trajetória, em caso de mau funcionamento.
REF.: ROA 16 (PESO DEZ)
 
RTA 12) Manter-se operacional quando estocado em temperatura ambiente, compreendida entre -5ºC (menos cinco graus Celsius) e +30ºC (mais trinta graus Celsius), de acordo com os métodos de ensaio 501.5 e 502.5 da Norma MIL-STD-810G, Procedimento 1.
REF.: ROA 43 (PESO DEZ)
 
RTA 13) Manter-se operacional quando em uso em temperatura ambiente, compreendida entre -30ºC (menos trinta graus Celsius) e +65ºC (mais sessenta e cinco graus Celsius), de acordo com os métodos de ensaio 501.5 e 502.5 da Norma MIL-STD-810G, Procedimento 2.
REF.: ROA 43 (PESO DEZ)
 
RTA 14) Manter-se operacional quando em uso sob chuva, de acordo o ensaio 506.5 da Norma MILSTD-810G.
REF.: ROA 44 (PESO DEZ)
 
RTA 15) Manter-se operacional depois de submetido a ambiente de névoa salina com concentração de 5% ± 1% (cinco por cento mais ou menos um por cento) de cloreto de sódio (NaCl) em água vaporizada a 35ºC ± 2ºC (trinta e cinco graus Celsius mais ou menos dois graus Celsius), de acordo com o método de ensaio 509.5 da Norma MIL-STD-810G.
REF.: — (PESO DEZ)
 
RTA 16) Manter-se operacional quando em uso em ambiente com umidade relativa, conforme descrito nos ciclos B1 e B2 do método de ensaio 507.5 da Norma MIL-STD-810G, procedimento 1.
REF.: ROA 43 (PESO DEZ)
 
RTA 17) Manter-se operacional após teste de vibração, de acordo com a Norma MIL-STD-810G, método
514.6, procedimento II, categoria 5.
REF.: — (PESO DEZ)
 
RTA 18) Manter-se operacional depois de submetido à baixa pressão, em compartimento para viagem, se houver, sendo o transporte realizado em aeronave não pressurizada em altitude de, no mínimo, 3.000 m (três mil metros) e tempo de voo de, no mínimo, 6 h (seis horas).
REF.: — (PESO DEZ)
 
RTA 19) Manter-se operacional, antes do lançamento, após ser submetido aos ensaios CE102, CS101, CS114, CS115, CS116, RE102 e RS103 – Ground Army de Compatibilidade Eletromagnética (CEM) e Interferência Eletromagnética (IEM) da Norma MIL-STD-461F.
REF.: ROA 11 (PESO DEZ)
 
RTA 20) Lançar, a viatura AV-LMU, no mínimo, 2 (dois) mísseis, sem a necessidade de remuniciamento.
REF.: ROA 5 e 6 (PESO DEZ)
 
RTA 21) Ser, a viatura AV-UAS, capaz de realizar testes, diagnosticando módulos defeituosos, dos seguintes subsistemas:
a) Sensores de navegação; e
b) Unidade de distribuição de energia.
REF.: ROA 32, 34, 35 e 36 (PESO DEZ)
 
RTA 22) Operar em todas as combinações de condições ambientais descritas a seguir:
a) Durante o dia e à noite; e
b) Na presença de um ou mais dos seguintes fenômenos meteorológicos: vento de até 7,7 m/s (sete vírgula sete metros por segundo), nuvens exceto Cumulus Nimbus ou chuva de até 10 mm/h (dez milímetros por hora).
REF.: ROA 44 (PESO DEZ)
 
RTA 23) Possuir intervalo de tempo para entrada em posição de, no máximo, 45 min (quarenta e cinco minutos) e para saída de posição de, no máximo, 2 min (dois minutos).
REF.: — (PESO DEZ)
 
RTA 24) Possuir intervalo de tempo após a entrada em posição e o lançamento do míssil de, no máximo, 10 min (dez minutos).
REF.: ROA 9 (PESO DEZ)
 
RTA 25) Permitir a programação da trajetória do míssil por meio da entrada das coordenadas geográficas da trajetória desejada, bem como do alvo designado.
REF.: — (PESO DEZ)
 
RTA 26) Permitir, após o disparo, a reprogramação de sua missão, em voo, modificando as coordenadas geográficas, inicialmente inseridas, da trajetória desejada e do alvo designado para outras pré-programadas e dentro de condições adequadas de enlace de comunicação entre míssil e viatura, tais como: altura da antena, altura de voo, características do relevo e condições meteorológicas.
REF.: ROA 17 e 29 (PESO DEZ)
 
RTA 27) Realizar automaticamente e ininterruptamente, por meio da AV-LMU, os procedimentos de autoteste do sistema, determinados em seus manuais técnicos.
REF.: — (PESO DEZ)
 
RTA 28) Apresentar, de forma visual, na Interface de Operação, os eventuais resultados falhos até que sejam sanados ou que o operador comande deixar de exibir.
REF.: — (PESO DEZ)
 
RTA 29) Ser capaz de garantir que o operador, por meio da AV-VCC e da AV-PCC, consiga realizar todas as operações de planejamento e gerenciamento da missão.
REF.: ROA 24 (PESO DEZ)
 
RTA 30) Possuir um sistema computacional para planejamento da missão que permita que o operador, devidamente treinado, planeje a missão em no máximo 2 h (duas horas).
REF.: — (PESO DEZ)
 
RTA 31) Possuir ambiente de planejamento da missão que permita a realização de, no mínimo, as seguintes atividades:
a) Recebimento da missão (coordenadas do alvo, dimensão do alvo e nível de dano desejado), utilizando cartas digitalizadas ou imagens de satélites em formato compatível com o utilizado pelo EB;
b) Definição da quantidade e tipo de mísseis necessários;
c) Definição da quantidade e tipo de veículos participantes da missão;
d) Definição das áreas de lançamento e áreas de preparação e retirada;
e) Definição das rotas para chegar às áreas de lançamento e áreas de preparação e retirada;
f) Cálculo e indicação do local provável da queda do booster, fornecendo as coordenadas do ponto de impacto previsto e uma área dentro da qual cairá o booster, com 95% (noventa e cinco por cento) de probabilidade;
g) Cálculo do instante de lançamento; e
h) Definição dos seguintes dados para o míssil:
1. Rota para o alvo, incluindo “pontos de passagem”;
2. Altitude de cruzeiro;
3. Alvos alternativos;
4. Zonas de autodestruição;
5. Chave de criptografia do telecomando; e
6. Elevação e azimute de tiro.
REF.: ROA 27, 28 e 31 (PESO DEZ)
 
RTA 32) Permitir a troca de informações entre o Sistema ASTROS e o Sistema de Comando e Controle em uso pelo EB.
REF.: ROA 25 (PESO DEZ)
 
RTA 33) Possuir sistema de segurança que permita interromper a sequência da cadeia de funcionamento até o momento do disparo. No caso de “nega” ou desistência de lançamento, as alimentações elétricas devem ser automaticamente cortadas e os circuitos elétricos de iniciação do míssil desativados e descarregados.
REF.: ROA 18 (PESO DEZ)
 
RTA 34) Ser capaz de se autodestruir, após o disparo, de forma telecomandada, e dentro de condições adequadas de enlace de comunicação entre míssil e viatura, tais como: altura da antena, altura de voo, características do relevo e condições meteorológicas.
REF.: ROA 15 e 30 (PESO DEZ)
 
b. Requisitos Técnicos Desejáveis
 
RTD 1) Possuir guiamento terminal que permita melhorar a precisão do míssil na fase final de voo.
REF.: ROD 1 (PESO SEIS)
 
6. EQUIPE DE ELABORAÇÃO
HELIO DE MIRANDA CORDEIRO – TC QEM
MARCO ANTONIO ALVARES DOS PRAZERES – TC QEM
RODRIGO BRANDOLT SODRÉ DE MACEDO – TC QEM
JOSÉ ADALBERTO FRANÇA JUNIOR – CAP QEM

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  1. com relção ao :

    RTA 1 ) Atingir, quando lançado da AV-LMU, alcance de utilização na faixa entre 30 km e 300 km (trinta quilômetros e trezentos quilômetros), podendo o limite máximo superior ser maior.
    REF.: ROA 1 (PESO DEZ)

    O limite do tratado se refere aos modelos exportaveis, não limitando o Brasil ter um míssil de maior alcance somente não poderar vender, agora o Exercito esta ajudando a Avibras nesse porem, já que ela poderar exportar essa versão do míssil.