ISRAEL ADMITE TER ATACADO SUPOSTO REATOR NUCLEAR NA SÍRIA

Em alerta ao Oriente Médio, Exército assume responsabilidade pela ofensiva pela primeira vez

TEL AVIV – Israel admitiu nesta quarta-feira que atacou e destruiu, em 2007, um suposto reator nuclear secreto da Síria, em uma operação aérea relâmpago contra o país vizinho. Não havia muitas dúvidas sobre a participação de Israel no ataque contra a usina de al-Kibar, na província oriental de Deir Ez-zor, mas é a primeira vez que o país assume abertamente a responsabilidade pelo ataque. O ministro israelense da Defesa, Avigdor Lieberman, afirmou que, com o reconhecimento, o país enviou uma mensagem a todo Oriente Médio.

Registro de imagem do Exército israelense divulgado em 21 de março de 2018 indica mira sobre reator nuclear sírio em 2007. Bombas são identificadas com círculos amarelos – HANDOUT – REUTERS

A Síria sempre negou a existência de um reator nuclear em al-Kibar, mas o Organismo Internacional de Energia Atômica (OIEA) considerou em 2011 “muito provável” sua existência. Os sírios teriam desenvolvido o reator com ajuda da Coreia do Norte.

“Durante a noite do dia 5 para 6 de setembro de 2007, aviões da força aérea israelense atingiram e destruíram um reator nuclear sírio em desenvolvimento. O reator estava a ponto de ser concluído. A operação permitiu suprimir uma ameaça emergente para Israel e toda a região”, acrescenta o comunicado do Exército israelense. “Um reator nuclear nas mãos de [o presidente sírio, Bashar al] Assad teria provocado graves repercussões no conjunto do Oriente Médio”.

ALERTA AO IRÃ

Segundo Lieberman, a ação militar em 2007 evitou que a Síria se tornasse hoje uma potência nuclear:

“A potência de nossas Forças Armadas, de nossa Aeronáutica e de nossas capacidades aumentaram em relação a 2007. Todos no Oriente Médio devem levar em consideração esta equação”, advertiu Lieberman em um comunicado. “Se não tivéssemos atuado, hoje teríamos uma Síria nuclear”, completou.

O ministro israelense responsável pelos serviços de inteligência, Yisrael Katz, escreveu no Twitter que a operação de 2007 explicou que “Israel não permitirá jamais que a arma nuclear caia nas mãos do que ameaçam sua existência: Síria ontem, Irã hoje”.

O reconhecimento coincide com a multiplicação das advertências por parte de Israel contra o reforço da presença militar iraniana na Síria em guerra e os apelos para se anular o acordo sobre o programa nuclear do Irã, firmado entre as grandes potências e Teerã. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deu um prazo até 12 de maio aos europeus para que corrijam os “defeitos” deste acordo firmado em 2015.

A possibilidade de um ataque israelense contra instalações nucleares iranianas foi durante muito tempo objeto de intensas especulações. Em 1981, Israel bombardeou um reator nuclear iraquiano em Osirak, apesar da oposição de Washington.

DETALHES DA OPERAÇÃO MILITAR

A admissão do ataque à usina de al-Kibar veio acompanhada de detalhes sobre a operação “Orchard”, que deflagrou um estado de alerta nas Forças Armadas diante da possibilidade de uma guerra. Oito aviões de guerra F-15 e quatro F-16 participaram do ataque, que teve início às 22h30 de 5 de setembro, com os aviões regressando à base por volta das 02h30. As aeronaves decolaram das bases aéreas de Ramon e Hatzerim e voaram até a região de Deir al-Zor, 450 quilômetros ao noroeste de Damasco. Dezoito toneladas de munições foram lançadas no local, afirmaram.

Imagens do ataque revelam a mira de um dos aviões se fixando em uma ampla estrutura, que explode logo depois. O suposto reator “foi totalmente desativado e os danos causados eram irreversíveis”, destaca o comunicado.

O atual chefe do Estado-Maior israelense, general Gadi Eisenkot, que na época do ataque comandava a região militar Norte, recorda em um vídeo como reuniu seus oficiais antes do ataque.

— Não posso dar detalhes sobre a natureza exata do alvo, mas haverá um ataque importante nas próximas 24 ou 48 horas, um acontecimento que poderá provocar uma guerra, mas tal probabilidade é baixa. A mensagem do ataque de 2007 contra o reator foi que Israel não aceitará que se construam instalações capazes de constituir uma ameaça — destaca o general Eisenkot. — Era a mensagem de 1981 (com o bombardeio ao reator nuclear iraquiano), era a mensagem de 2007 e é a mensagem do futuro para nossos inimigos.

Fonte: O Globo

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